Aquele quarto me dava um tormento que só eu sentia, não sei como entrei, não sei como fiquei, sou surpreso até hoje de não ter morrido de mágoas que me corroíam de um forma tão excruciantes que só eu sabia o mal que aquilo me fazia. Ele representava a dor, a perda dos meus pais, o ano mais difícil da minha vida, minha adolescência vivida intensamente, e principalmente, a falta de você. Não sei se era exatamente medo, mas tenho impressão de que aquele lugar me deixava um pouco "medonho", não entendi muito esse meu sentimento. Lembro que acordava todos os dias umas oito horas da manhã para tomar aquele café quente que só minha mãe sabia fazer, aquele simples alimento me deixava tão feliz, eu adorava tomar café com o pão francês da padaria perto da nossa casa, minha mãe saia todos os dias cedo para garantir os três pães que ela sempre levava. Sentia pena todos os dias por ver que ela vivia por mim, ou pior, somente por mim, esse amor é indescritível, esse amor é de mãe. Ela me acompanhava todos os dias no caminho da escola, eu tinha um amigo que era órfão e por isso morava com suas duas tias, a sua tristeza era notável, parece que o seu futuro estava fadado à uma desgraça total, pelo menos era o que eu achava. Certo dia uma garota chegou, e transformou a vida do garoto de uma forma tão boa que até eu me surpreendi com a mudança de comportamento que ele teve. O garoto que era triste, agora andava cantando pelas ruas alegres de sua feliz cidade, parece que agora nada o iria deixa-lo triste. Eu estava enganado, um dia essa menina que lhe trazia alegria, partiu dessa para outra, não só ele ficou, mas todos nós, os seus amigos, ficamos triste. O brilho daquele menino havia se apagado. Hoje ele vive em um quarto pequeno e escuro, se cortando com o canivete no qual seu pai lhe deu, o único presente no qual ele ganhou, parace que esse instrumento foi útil para ele. Seu corpo continua retalhado, mas o interior dele continua ressaltado!
Written By: Armando Rodrigues